Garimpando Latas!

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Garimpando Latas!

Eu conheci o Nuno “Suva”Coelho pelos grupos de Facebook sobre pedais e sempre fiquei impressionado com o conhecimento dele. O Nuno é um cara que tem por hábito estar sempre bem informado e que busca as próprias opiniões e questionamentos antes de sair replicando o “status quo”dos guitarristas de internet. E assim ele ganha um espaço para escrever aqui no Pedais & Efeitos e é uma honra para nós termos o nosso primeiro articulista internacional!

Gaste um tempo para ler o Nuno e descubra um pouco das garimpagens dele. Alguma coisa certamente você vai aprender.

Leo Ximenes
Editor

 

Fotogarimpagem, histórias de latas, e outros materiais reciclávis… desculpem, quero dizer, musicais.

Muito raramente compro um pedal novo, zerado, na loja. Por vezes chego a crer que os pedais me escolhem a mim, e eu gosto disso. Acabou a ansiedade, a expectativa, a neura do dia chegando. Deste jeito, como não é uma compra planeada, não se sofre por antecipação. Eles simplesmente pintam um dia, a meio de uma tarde chata de trampo, num grupo de vendas, e falam: “Alô, eu amo vc papai!!” Bem… nem sempre os amo, como eles a mim, e por diversas vezes os revendo sem dó nem piedade. São apenas enlatados de sons e temperos, meros detalhes. Regra numero um, tentar comprar, me divertir, “cozinhar”, sempre pensando na revenda, de forma que não tenha “preju”. Se lucrar melhor, se gostar muito do som, maravilha, fica lá por casa. Vamos à foto, foto de família, com irmãos, meios irmãos em timbres, deu para notar?

Rat92 transição para Rat2. A conversa lá em casa em torno das latas é tanta, que até a minha irmã do meio entrou na jogada desse Rat dos anos noventa. Todo mundo deveria ter uma irmã igual à minha. Foi uma jogada de pura sorte, rocambolesca até. Ela emigrou e achou um cara vendendo as tais “nossas famosas latas”, lá na gringolândia onde ela foi morar. Comprei quatro pedais ao “bacano”. Ela que não
entende nada do assunto e me mandava as fotos. Eu nunca vi, nem falei com o vendedor! Um Boss dd7 por 70 paus (euros), e num segundo momento, ele querendo se desfazer de tudo o que tinha, anunciou o resto das latas a 35 euros cada! Dois Boss, um tr2 e um bd2, e esse Rat. Eu juro que achava ser um Rat2 China, pois desse ele não tinha fotos. Ou seja, três vezes 35 euros. COMPRA JÁ – falei para ela. Chegaram os
trecos, tr2, um bd2, tudo normal e tal… mas olhando o Rat com atenção, ele era diferente. Caixa quadrada super pesadona, e não a slant do Rat2, knobs diferentes. A tampa da bateria estava solta e dava para olhar para as entranhas da lata. Que lata!! Lá estava o famosão LM308 de origem (sem modificações, como é normal achar em muitos Rat2 hoje em dia), já com led de origem, mas sem TBP. O adesivo na carcaça
com o bonito Made in USA… 35 euros. Jobim cantou errado. Nessa hora felicidade não tem fim, tristeza sim. Um senhor Rat com tudo no lugar. O som então, denso, as nota definidas, peso, nada sobrando, nada fora do lugar, muito rock. Nessa hora vc esquece SL Drive da vida, Crunch Box e outros Charlies. São meninos do coro perto do senhor Rat. Me refiro a ele como Rat92 pq realmente não acho que seja justo inclui-lo na fase Rat2, pois ele é muito, mas muito proximo em som dos small box dos anos 80’.

EHX Bigmuff v9 (USA) com caixa v6. O KitRae (um dos grandes especialistas em Bigmuff), fala que: “I have seen a few V9’s variants without the large black graphic on the lower half, so the satin steel enclosure shows there, like some V6 Big Muffs”. Dei sorte de novo. Bem, o pedal não vale mais por ter essa caixa de cara “branca”, mas não deixa de ser um mistério interessante. Tem uma placa EC3003revE, ou seja claramente posterior a 2007, assim nunca poderia ser de 2000 como as ultimas v6. Que baralhação!
Os parafusos também não identifico em nenhuma foto de alguma outra versão. A primeira impressão é de que a caixa teria sido lixada, raspada, mas não, tudo é original. O som é muito bom, violino puro. A galera ama os green/black soviet da era Sovtek (pós falência da EHX NY) e eu tb é certo, mas esses USA v9 são um doce tão bom quanto os outros mais procurados. Dica, para esculpir ou limar a gosto o som do muff, utilizar um pedal equalizador antes, ou um lpb1 com chave de corte de graves, ou um drive neutro com
um bom tone para filtrar o excesso de graves, ou dar algum destaque de médios.

Tc Electronic Vintage distortion. É desta antiga gama denominada Vintage Series, que vêm a surgir muitos modelos que iriam dar origem aos primeiros pedais da renomada Trex. Por exemplo um deles é o Vintage Delay que dará origem ao reconhecido Replica. Este clone de Rat da TC é fantástico, muito superior a qualquer Rat2. O mais próximo em timbre, do catalogo da Proco em produção hoje, é o
YourDirtyRat, que vem com o opamp (“chip”) OP07. Pois, nem sempre os componentes clássicos são a mais valia de um circuito. Dificil de acreditar não é? Testei os três (Rat92, YDR, e esse Tc) lado a lado durante meses. No entanto, a grande sacada dele é esse switch (apesar de se denominar BOOST, o nome deveria ser antes PAD/atenuação) que diminui o ganho, transformando ele num overdrive muito legal quase na praia de um screamer, mas mais orgânico, e bem, bem menos médio. Hj em dia pode ser
encontrado no catalogo da Trex com o nome de Mudhoney. Inclusive a Trex relançou faz pouco os 3 primeiros pedais deles, incluindoo Mudhoney, simplificando um pouco o layout. Vale a pena conferir. Não esquecer… quer um Rat muito bom, que está em produção, lembrando muito os rats vintage? Pegue um YourDirtyRat, mesmo que o layout deste não causa aquele impacto do classico logo RAT branco sobre a lata negra.

Caroline Olympia. Depois de ter experimentado um Rat2 e um “clone” Fat Cat da Serie 10 da Ibanez, e me ter passado pelas mãos um Muff, finalmente pintou a preço decente, esse Azul Caroline. Creio que até comecei bem essa aventura pela mufófuzlândia. O Rat é overdrive, é quase muff, é pesado, tb pode ser leve, como uma espécie de “terra média” que abre as portas para o mundo desses drives complexos e
dificeis de entender ao primeiro contacto. O Olympia é um circuito clássico, montado com componentes de alta qualidade, surpreende pelo baixo ruido e com um “tone bypass”, permanente digamos, pois não tem controle de tone. O pedal está tão bem calibrado que nem dá para sentir falta desse terceiro knob. Além do referido ele também tem bastante mais ganho que um muff tradicional, no entanto não embola nem soa estridente em nehuma regulagem.

Fredric Effects Green Russian. Entrou faz pouco para a família. Ele é um clone, de um já bem conhecido handmaker de UK, dos primeiros green sovtek/russian. Mais uma vez recorro às excelentes descrições detalhadas do KitRae: “The second and third edition Bubble Font Green Russians have a bit more grit and bite, less bass, and most have more sustain than the Civil War version, but they are not as smooth sounding. Less gain, fatter bottom end, and brighter mids than most vintage USA Big Muffs.” Bem menos ganho, mais domável que os muff tradicionais, mais rock, mais presença de médios graves, nada wooly, e um tone bastante versátil. Funciona muito bem junto com outros overdrives e boosters.

Dica extra. Faz pouco tempo que descobri quais os melhores amiguinhos para essas cinco latas “do mau”. Uma espécie de Huginho, Zezinho e o Luizinho. Estou me referindo ao Blues Driver, Screamer e Klon. Todo mundo deveria ter esse trio, ou clones semelhantes, para trabalhar os timbres dos seus rats, muffs, e fuzzs. Na realidade cada um destes três, usados em modo baixo ganho, oferece, molda uma curva de resposta, uma voz, que quando somada com esses irmãos de maior ganho, acentua o que
de bom tem para oferecer, arruma melhor algumas frequências, ou filtra o que está incomodando. O famoso stack de pedais, ou drives em cascata.

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