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9 de dezembro de 2013Na Prática: André Martins
Voltamos com o nosso “Na Prática”! Conversamos com um guitarrista que já se aventurou por diversos caminhos dentro da esfera musical, mas que segue fazendo sua (boa) música! Confira o papo com André Martins!
Pedais & Efeitos: André, muito obrigado por nos conceder essa entrevista! Como surgiu seu interesse por música e especificamente pela guitarra?
André Martins: Comecei tocando violão com cerca de 11 anos de idade, meu pai foi músico amador e em casa havia violões, discos, muita música sempre rolando. Aos 13 consegui uma guitarra e comecei a fuçar, entender como funcionava, não havia na época praticamente nenhuma informação. Eu e mais alguns poucos amigos aventureiros juntávamos dinheiro e íamos ao centro da cidade, em uma banca de jornal perto do Teatro Municipal, para comprar alguma revista importada de guitarra. Isso era na década de 80, quando eu comecei estudar primeiro violão erudito, com um professor chamado Mario Carrer, que tinha tido uma carreira brilhante desde a década de 60; dele, fui estudar guitarra, primeiro com um professor particular, depois na Fundarte de São Caetano, uma escola forte de arte, teatro e música, onde tínhamos aula de percepção, rítmica, teoria, piano e o instrumento. Ali comecei a entender um pouco mais, saber o que era o que, havia pelo menos um pouquinho mais de informação. Tudo era muito diferente do como são as coisas hoje, nem pior nem melhor, apenas diferente.
Pedais & Efeitos: E em que momento você decidiu que viveria disso?
André Martins: Eu não lembro de ter feito uma opção “sensata”, acredito que na arte em geral, não somente na Música, não é você quem escolhe, mas sim já fica ambientado e, quando menos espera, já está inserido em um contexto, um cenário. Mas acho que por volta dos 18, 19 anos eu já tinha consciência do que eu realmente queria ser, queria tocar, produzir, gravar, estava sempre lendo, tocando, ensaiando, aprendendo. Gostava e gosto muito ainda de Literatura.
Pedais & Efeitos: Além de músico você também já foi editor de uma revista especializada para guitarra. Como foi a experiência?
André Martins: Foi excelente por um período, uma boa experiência, onde aprendi muito e pude também aplicar alguns conceitos de carreira e de vida, pois uma publicação mensal, especializada, é sempre muito instigante e desafiadora. Eu voltei ao Brasil em 2000, após ter ficado 3 anos em Los Angeles, onde estudei no LAMA e na UCLA e também trabalhei com Frank Gambale. Na volta o Sydnei Carvalho me chamou para escrever para um site de guitarra, que na época chamava-se Guitar Brasil. Eu fiz um review bem bacana, eu gosto de escrever, fui redator em agências de propaganda, e estava voltando para o Brasil, super antenado com coisas bem novas e diversificadas. O Sydnei, que já era um amigo há muitos anos na época e continuamos até hoje uma grande amizade, gostou bastante de meu texto e foi então que me levou para a Cover Guitarra, onde eu comecei com um colaborador. Através de meu trabalho, participando bastante, fui crescendo na revista, ao mesmo tempo que minha carreira começava a decolar. Gravei meu primeiro disco, o “Infinito”, em 2002. Ainda este ano fundei uma escola bem moderna de música na época, a Gig Música Profissional, em Pinheiros, que fechei em 2009, também por opção. Fui convidado em 2002 para ser o editor da CG, aceitei, foi muito bom por um tempo, éramos extremamente criativos e vendíamos muita revista na época, o que permitia financeiramente voos arriscados. A equipe de colaboradores, colunistas e transcripters da época foi lendária, e até hoje muitos continuam grandes amigos. Fiquei até o fim de 2004, por opção sai, porque queria que minha carreira tomasse outros rumos.
Tão importante quanto entrar em um trabalho é saber até onde você vai com ele, e quando sair; sai bem, com amizade, profissionalismo, por opção. Em todos, absolutamente todos os lugares por onde passei até hoje, as portas continuaram abertas, sempre. Isso eu levo comigo com bastante apreço! Depois, trabalhei muito na Gig, no conceito de uma escola estado-da-arte, e gravei 2 vídeo-aulas de Improvisação, que hoje estão disponíveis em DVD, escrevi alguns métodos e também produzi uma série de métodos didáticos com mais de 35 lançamentos, não só de guitarra, mas de violão, contrabaixo, saxofone, piano, bateria e home-studio. Também tocava bastante, tive um período de “noite” paulistana, tocando standards e gravei muitos jingles e trilhas para propaganda.
Pedais & Efeitos: Vamos agora falar sobre o seu novo disco, “Harlem”. Como foi o processo de composição e escolha dos timbres presentes nesse trabalho? Foi diferente dos anteriores?
André Martins: “Harlem” é meu terceiro disco instrumental. Foi lançado pela Black Records, do Rio de Janeiro, um selo especializado que tem em seu casting grandes artistas como João Castilho, Dado Villa-Lobos, Rafael Nery, entre outros. A BR já havia lançado meu segundo disco, Argila, em 2008, aliás foi o primeiro disco deles, e tivemos uma ótima experiência, tanto administrativa quanto em confiança, o que é muito importante neste mercado tão incipiente. “Harlem” é diferente, são 10 músicas autorais, onde crio sons bem distintos, é um disco totalmente focado no timbre, na concepção sonora, na ambientação. Tive o imenso prazer de trabalhar com o Paulo Assis, um engenheiro de som ímpar, o disco foi gravado em seu estúdio AudioClicks em São Paulo, e contou com Rui Barossi no contrabaixo acústico e elétrico e Bruno Iasi na bateria e percussão, além do próprio Paulo Assis, que criou várias vinhetas sonoras que costuram as faixas do disco. É um trabalho extremamente melódico, onde procurei fazer um disco de “canções” instrumentais. Estou muito satisfeito com o resultado artístico deste novo trabalho!
Pedais & Efeitos: Você pode nos falar um pouco sobre o seu Setup? Existe diferença do seu setup de gravação e do que utiliza ao vivo?
André Martins: Meu setup é extremamente “multidisciplinar”, pois tenho desde pedais antigos analógicos à soft-synths e aplicativos modernos de síntese sonora. Acredito que o que vale é o SOM. Para mim, não importa se o timbre é gerado por um sistema tradicional de pedais, um controller digital plugado em um MacBook ou racks modulares. Eu busco sonoridades distintas, diferentes, jamais utilizo presets e procuro criar, sempre, uma sonoridade personalizada. Acredito que hoje existe, de um lado, muito fetiche pelo velho, pelo vintage, pelo analógico, que é uma coisa que o mercado absorve bem e sabe empacotar na venda, e de outro lado, um deslumbre com o digital, com o mobile. Sempre penso que, se artistas como Hendrix ou Miles Davis estivessem vivos hoje, estariam criando sons incríveis e originais com todo o arsenal tecnológico que existe, e nunca olhando somente para trás, tentando simplesmente simular coisas antigas… Tocar com um Tube Screamer antigo em um amplificador valvulado com reverb de mola é tão bom quanto tocar com o GuitarRig em meu MacBook. Cada coisa tem a sua função; é dever do artista saber para onde quer ir e levar sua sonoridade. Equipamentos são apenas ferramentas. Quem constrói (e destrói) é o ser humano.
Pedais & Efeitos: Você tem algumas parcerias com empresas. Existe liberdade dentro dessas parcerias para que você possa pesquisar e utilizar outras marcas se for necessário?
André Martins: Sim, tenho empresas endorsee’s e parceiras de muitos anos, quase todas brasileiras, que produzem aqui. Para cada uma delas existe um tipo de relacionamento e contrato, mas com todas eu pauto, sempre, pela clareza, originalidade e profissionalismo. Eu tenho sim liberdades distintas com cada tipo de patrocinador meu, onde posso experimentar outros equipamentos e sempre usar o canal do músico/artista para com a empresa no R&D dos produtos. No momento que eu percebo que existe algum produto diferente dos que eu uso e que me chamou a atenção, eu vou buscar o porque disso e entender o que faz aquele produto ter esta qualidade distinta, dividindo sempre com meus patrocinadores as ideias.
Pedais & Efeitos: Qual o papel dos pedais e efeitos dentro da sua música?
André Martins: Como compositor, não necessito de efeitos, na hora de compor não penso em sons, mas em melodias e camadas harmônicas. Mas como instrumentista, tendo escolhido um instrumento de natureza elétrica, pedais, efeitos e procedimentos eletroacústicos são vitais na minha concepção sonora. Os efeitos me inspiram e me fazem tocar de forma distinta. Se utilizou um delay programado para repetir em tercinas, irá influenciar automaticamente a maneira de interpretar e tocar. Cada drive, modulador, EQ ou controller que aplico e escolho muda o timbre, e a maneira de como minha sonoridade final, meu timbre, meu som, é concebido e percebido.
Pedais & Efeitos: Qual o seu pedal favorito?
André Martins: Hoje, meu pedal preferido é o Freeze, da Electro-Harmonix. Eu vi um show de Bill Frissel na California usando este pedal e fiquei completamente intrigado com este efeito. Ele é original, representa sempre um passo à frente do mainstream. Gosto também, demais, de um overdrive da Tom Tone, o Punch Box, que é demais de bom!
Pedais & Efeitos: E qual será o seu próximo pedal?
André Martins: Quero comprar um delay da Strymon, o Timeline… Meu grande amigo Marcos Kleine, que dispensa apresentações, tem um e me mostrou, fiquei realmente impressionado! É o melhor delay que já ouvi, e muito poderoso em programação… Quero um, com toda certeza!!!
Pedais & Efeitos: Você já conseguiu encontrar o seu timbre ideal ou continua buscando e testando novidades?
André Martins: Eu gosto muito de tocar em diferentes configurações. Gosto desde de plugar a guitarra direto em um amplificador e conseguir timbrar legal, utilizando os recursos somente do instrumento, do amplificador e das mãos, como ter um software como o GuitarRig ou o AmpliTube e mexer, tweekar, inventar.
Não penso que alguém possa um dia dizer que encontrou o timbre perfeito. Todos os – grandes – músicos que disseram isso um dia continuaram buscando novos sons e sempre estão com novidades. Adoro o som e timbre de Jeff Beck, Bill Frisell, João Castilho, Michael Landau, Marcos Kleine, Torcuato Mariano, Scott Henderson, John Scofield, Sylvain Luc, David Torn, Frank Solari, Fareed Haque, Carl Verheyen, entre tantos outros, e eles sempre continuam a me surpreender e inspirar com novos e maravilhosos sons…
Pedais & Efeitos: André, obrigado pela entrevista e pela audiência! Sabemos que você é um leitor assíduo do site! Quer deixar algum recado pra os nossos leitores?
André Martins: Obrigado à equipe da Pedais & Efeitos, eu gostaria de dizer que é sempre muito importante buscar um caminho original, por mais difícil que possa ser. Não fique imitando os outros. Não seja outrem, seja você mesmo! Busque o que você quer o que você ama, os sons que estão na sua cabeça e coração, estude, se inspire nas pessoas que você gosta.
Um grande abraço à todos!
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